O perfil contemporâneo de liderança na construção civil

Artigo

27 de fevereiro de 2020

Anísio Rezende*

Imagine um canteiro de obras com centenas de profissionais de áreas diferentes, cada um com sua particularidade, aguardando orientações para o andamento dos trabalhos. Acrescente a isso problemas e conflitos sempre passíveis de acontecer e que demandem resoluções rápidas e assertivas dos gestores.

No contexto da cultura organizacional atual, o perfil de liderança vem se adequando à nova forma de se fazer gestão de pessoas em cenários como esses. Sim, é imprescindível que um líder do setor de construção civil ou do mercado imobiliário mantenha habilidades e competências sociais que lhes são intrínsecas – saber comunicar, administrar o tempo, tomar decisões, buscar aprimoramento e delegar tarefas. No entanto, esse novo perfil passa hoje, mais do que antes, pelas pessoas: o ser humano é a peça chave para a entrega de resultados. E ter colaboradores capacitados, dedicados e estimulados nas obras nunca foi tão valioso para o setor que mais impulsiona a economia do país hoje, gerando riqueza, emprego e renda.

“Ser líder começa com conexão. Ele deve ser, primeiramente, um especialista em gente”, afirmou a psicóloga Carolina Lobato em uma palestra proferida recentemente no auditório do Sinduscon-MG, direcionada a gestores de Recursos Humanos das empresas associadas. Ela, que atua há 14 anos em gestão estratégica de RH e programas de desenvolvimento de lideranças e equipes, destacou ainda que entre os desafios desse novo perfil de liderança estão a tecnologia e a diversidade, grandes aliadas em tempos de mudanças e alta rotatividade profissional.

Outro desafio é a retenção de talentos. Um líder deve conhecer as potencialidades individuais dos membros de sua equipe tão bem quanto a estratégia da construtora em que trabalha. Só assim será possível alinhá-los e guiá-los para o alcance dos objetivos. Vale lembrar que a remuneração como modelo de compensação atrelado ao desenvolvimento do negócio é um estímulo importante para a manutenção de uma boa equipe.

“Líderes devem engajar pela emoção. Se isso não acontece, não é possível reter os talentos e, principalmente, exercer a liderança”, completou Carolina. Um estudo publicado pelo Instituto Gallup Brasil em 2016 mostrou que 2/3 dos profissionais que se desligam das empresas atualmente pedem, na verdade, “demissão dos chefes”. Setenta por cento dos funcionários não se sentem engajados no local de trabalho. Como gestores de construtoras e incorporadoras, sabemos que profissionais sem engajamento ou com um líder que não inspira não são proativos, inovadores ou trazem bons resultados.

Estamos no século 21, vivemos a era da cooperação. O mercado precisa cada vez mais de lideranças colaborativas que dão voz e oportunidade aos colaboradores. Afinal, quantas empresas e líderes não encontraram soluções simples para gargalos do dia a dia no processo construtivo apenas porque ouviram sugestões de sua equipe?

Os tempos de lideranças dissonantes – que transformam canteiros de obras em lugares tóxicos, se dedicam a encontrar culpados para tudo e cuja estratégia de gestão é a desconfiança ou o grito – ficaram para trás. Trabalhadores são a matéria-prima da construção. Cada colaborador deve ser visto, individualmente, como um líder em potencial que faz escolhas, tem responsabilidade com o seu trabalho e que agrega valor também na convivência e no desempenho dos colegas.

A construção civil, setor que emprega mais de 276 mil pessoas apenas em Minas Gerais, entende que a gestão do capital humano é ativo dos mais importantes e que cabe ao líder “adubar” as competências de cada colaborador, fomentando o trabalho em equipe e criando alicerces para um ambiente organizacional cada vez mais produtivo e seguro.

*Presidente do Grupo de Intercâmbio de Recursos Humanos (GICC-RH) do Sinduscon-MG.

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